Friday, March 28, 2008

All packed



hey man what's your problem don't you know that i don't belong to you it's hard and hard enough to keep it up when everything is so new i'm not trying to forget you i just like to be alone come and give me the space i need and you may and you may and you may and you may and you may find that we're alright i'm not trying to forget you i just like to be my own come and give me the space i need and you may and you may and you may and you may and you may find that we're alright i mean no offense to you but grow up can't you just grow up? when are you going to give it your own go? give it your own go i know i'm being way too hard but i know that i'm trying i know myself and i know what i want to do i'm doing my best and i want to know is it good for you? you give me trouble you give me everything that you've got i'll show you that what's right for me ain't for you don't look out for me who are you to tell me how when you've problems of your own i do love you and i want to hold on to you for always


Bros, de Panda Bear


Person Pitch, pelos Panda Bear é mais um dos meus álbuns de 2007.

Odeio a TAP

Seja porque é de madrugada e por norma estou mais sensível nesta altura do dia, seja porque acabei de estar com amigos, seja porque o gato veio cumprimentar-me à porta quando cheguei, seja lá pelo que seja, raios, vou ter de fazer as malas outra vez. E não é porque tenho de lá tentar enfiar a roupa que vou usar nos primeiros 15 dias e nos restantes 5 meses e meio (até voltar para reabastecer ou comprar nas lojas, porque lá há lojas; até tem a loja do vestido que eu vou comprar, o cai-cai comprido até aos pés). Roupa, secador, carregador do telemóvel, do portátil, da máquina fotográfica, creme para o cabelo, para a cara, para o corpo (odeio a TAP e o limite de peso na bagagem), e a porcaria do livro enorme que escolhi começar a ler precisamente agora (as mulheres não sabem escrever romances curtos; se também os livros tivessem limite de peso, só tínhamos escritores no masculino).

Estive a vasculhar uns sites para aluguer de casas e já descobri a minha. A experiência em Marrocos diz-me que quando me apaixono à primeira vista por uma casa, sai-me caro (mais precisamente 650 euros por mês; quem mais paga isto por um estúdio em Rabat?). No entanto, em abono do meu sentido estético, quem lá entrou ficou boquiaberto pela decoração e restantes apetrechos tecnológicos. Quero casa pequenina, com cama grande, microondas e forno (é desta que vou aprender a fazer cozinhados mais elaborados). Tenho lá a Worten, para comprar a máquina de café, e de chá, e a Fnac, que em nada fica atrás da sua congénere de matosinhos, segundo informação de conhecedor.

A equipa de trabalho é constituída por pessoal jovem, a média de idades deve rondar os 30 anos. O código de vestuário consiste apenas numa pequena regra: não usar t-shirts com logótipos de futebol e não usar havaianas.

Estava eu a dizer que, seja lá pelo que seja, não era por causa de fazer as malas. Mas, também já não consigo lembrar-me pelo que era.

Wednesday, March 26, 2008

Tuesday, March 25, 2008

d' O Excesso

«(...) É por isso que renegamos o conhecimento desintegrador, porque o conhecimento, Fedro, não tem qualquer dignidade ou severidade; é sabedor, compreensivo, indulgente, não tem posição nem forma; tem simpatia pelo abismo, ele é o abismo. Por isso o rejeitamos energicamente, e desde então a nossa ambição é só a beleza, o que quer dizer a simplicidade, a grandeza, uma nova severidade, um incondicionalismo renovado, a forma. Mas a forma e o incondicionalismo, Fedro, levam à embriaguez e ao desejo, podem levar a criatura mais nobre a terríveis sacrilégios do sentimento, que a sua própria severidade pelo belo repudia por infames, levam ao abismo, também elas levam ao abismo. A nós, poetas, digo-to eu, é aí que elas nos levam, pois não somos capazes de elevação, mas de excesso. E agora, Fedro, vou-te deixar aqui, fica tu aqui e parte só quando já me não vires. »

Morte em Veneza, Thomas Mann

Morte a Venezia (1971), Luchino Visconti

Esses abismos também eu os procuro. Fecho o olhos e deixo-me cair, sinto o ar gelado a pressionar-me a pele, fixar-me os movimentos dos membros, a sensação de vertigem a percorrer-me as pernas, instalar-se no baixo ventre. Apaixono-me pelo que vejo, a harmonia das formas, dos grandes olhos, do desenho dos lábios, a virilidade dos traços. E o andar; gosto de um andar pesado, que imprime em cada passada a certeza de querer ir naquele sentido. Um andar vagaroso e pesado. O corpo, ai!, o corpo; contemplação; depois, o toque, o cheiro, o gosto.

Wanted (iii)


Quero este vestido. E tenho dito.

Porque não agora?

The Complete Omnivore, 1993

« At some point we’ve got to stop asking ourselves what is the meaning of everything, maybe it’s not so very important what it means. It’s probably more important what the sense of it is... they are two very basic and different things. »

Tony Cragg

Snapshots

The Sopranos


Adriana La Cerva:
[at Christopher's intervention]
But when you killed Cosette, that was the last straw.

Anthony ‘Tony’ Soprano Sr.:
Killed the dog? What'd you do that for?

Christopher Moltisanti:
It was an accident!

Paulie ‘Walnuts’ Gualtieri:
Was it barking?


Todas as segundas-feiras, às 22h, podiam encontrar-me invariavelmente em frente à televisão para ver Os Sopranos. Era inquestionável perder um minuto que fosse da música dos Alabama 3 que abria as hostilidades... Woke up this morning, got yourself a gun.
Um dos episódios que me ficou gravado na memória foi aquele em que o Christopher Moltisanti (interpretado pelo Michael Imperioli que esteve há pouco tempo a filmar em Alfama Os Lovebirds), sob o efeito de drogas, mata o cão da namorada ao adormecer no sofá em cima do bicho. Tenho noção de que o propósito da cena não seria esse, mas eu cheguei às lágrimas pela via de gargalhadas incontroláveis. A espécie de canídeo (detesto cães pequenos) dava pelo nome de Cosette.

Monday, March 17, 2008

d' A Virtude e d' O Pecado

« Não acredites que a Providência recompensa sempre a virtude, não permitas que um breve momento de prosperidade te mergulhe em tais erros. É indiferente às leis da Providência que este seja pecador enquanto aquele é virtuoso; é-lhe necessária uma soma igual de pecado e de virtude, e o indivíduo que pratica uma coisa ou outra é-lhe absolutamente indiferente.
(...)
Num mundo inteiramente virtuoso, aconselhar-te-ia sempre a virtude, pois como para ela haveria recompensas implícitas, nela estaria infalivelmente a felicidade; num mundo totalmente corrupto, jamais te aconselharia outra coisa que não fosse o vício. (...) Dir-me-ás que é o vício que contraria o interesse dos homens e eu concordaria contigo num mundo composto, em partes iguais, de pecadores e virtuosos, porque então o interesse de uns chocaria logicamente com o dos outros, mas isso não acontece numa sociedade onde a corrupção impera. Nesta, os meus pecados só lesam os pecadores e determinam neles outros pecados, que os desforram, e ficamos todos felizes. A vibração torna-se geral, dá-se uma multitude de choques e de prejuízos mútuos, em que cada um recupera sem demora o que acabou de perder e se encontra, constantemente, numa situação benéfica. »


Os infortúnios da virtude
, de Marquês de Sade


The Judgment of Paris (1530), Lucas Cranach


A obra que termino de ler foi escrita no breve espaço de 16 dias, em meados de 1787.
Tomando partido do trabalho realizado por Jean-Marie Goulemot, o objectivo final da escrita prendia-se não tanto com a ocupação do tempo livre que tinha entre mãos, mas mais com o tecer de uma defesa em nome próprio, encontrando-se o autor preso na Bastilha por deboche.
Ao longo das 160 páginas, pela boca das diversas personagens que o Marquês coloca sucessivamente na vida da nossa heroína, vai desfiando um rol de argumentos, semelhantes aos que transcrevi acima, tendo sempre em vista convencê-la (e, em última análise, convencer o leitor) de que a prática da virtude efectivamente não compensa. Cada vez que se antevê uma boa acção, já uma praga está a cair sobre a cabeça da pobre Justine (ou Sophie, o nome falso que adoptou ao longo de toda a narrativa, por motivos de protecção), enquanto que o elemento prevaricador é recompensado na exacta medida dos seus pecados.

É dada a provar a Justine, ainda em vida, uma pequena amostra dos prazeres e recompensas terrenas, para logo ser fulminada por um raio. A sua história de vida aproveitou, contudo, à sua irmã, que até àquele dia tinha seguido um modo de vida em tudo oposto ao da virtuosa. Após a conclusão da história, Marquês de Sade formula os votos de que também ao leitor aproveite, pois "a verdadeira felicidade só se encontra no seio da virtude e que se Deus permite que seja perseguida na Terra é para lhe reservar no Céu a mais lisonjeira recompensa".

Na minha humilde opinião, penso que o nosso querido Marquês de Sade não acreditava em palavrinha alguma desta conclusão.

Meanwhile

Selfportrait, 1978

« I need the city; I need to know there are people around me strolling, arguing, fucking—living, and yet I go out very rarely; I stay here in my cage. »
Francis Bacon

Imagens que interessam (ii)

Sunday, March 16, 2008

Porque eu gosto (iv)




O que vos digo, meus amigos, é que é tudo uma questão de equilíbrio. As leituras, tenho-as a cargo de Marquês de Sade; na música procuro anjos.


Ps- Viram como pulsa o sangue nas mãos do anjo? Ele tem veias, tem veias. I made a lot of mistakes.

Saturday, March 15, 2008

Para o Nuno Coelho

Encontrando-me eu acamada e, por conseguinte, impossibilitada de me deslocar à festarola hoje à noite, quis deixar aqui o meu tributo ao aniversário do Coelhinho, no passado dia 11 de Março, através de um bolo que puxa um pouco ao canibalismo. Muitas Felicidades!!!

Friday, March 14, 2008

Foi com isto que sonhei hoje



Só me lembrava de "into the trees, into the trees". O que eu dançava! Aparentemente, quando o cérebro está a cozer a 39 graus e já se cuspiu dois terços do pulmão para o lenço, é em Cure que se pensa. The mind works in mysterious ways.

Wednesday, March 12, 2008

Males do Mundo (ix)

A mania que os homens têm de se preocupar com a linha. Passam o tempo a contar calorias, a correr para e nos ginásios, a controlar os hábitos alimentares da namorada. Não há nada como um homem que aprecie um bom prato, saiba fazê-lo acompanhar de uma bebida, cultivando assim a gordurinha ao fundo da barriga que tende a espreitar por sobre o cinto das calças.

Ouvi dizer













... no TimesOnline que Eliot Spitzer se demitiu do lugar que ocupava como Governador de Nova Iorque, devido a um escândalo sexual. O "Sheriff de Wall Street" era afinal o "Cliente 9" de uma rede de prostituição de luxo, cujo preço dos serviços prestados rondavam os $5,500/hora.
Pode encontrar mais pormenores sobre esta empresa na Wired.




... no El País, que o computador de Raul Reyes, em vida o número dois da guerrilha, lançou novos dados acerca da relação entre as FARC e o Equador.
«Bogotá dice entender ahora esa actitud. Esa mina que es el ordenador de Raúl Reyes ha desvelado las relaciones políticas sostenidas por las FARC con el Gobierno de Quito al más alto nivel. El número dos de la guerrilla da cuenta de dos reuniones, el 18 de enero y el 28 de febrero de este año (dos días antes de su muerte), con emisarios del presidente Rafael Correa. Uno de ellos es su ministro de Seguridad, Gustavo Larrea. El presidente ecuatoriano propone reunirse con los mandos de la guerrilla en Quito, establecer "coordinaciones sobre la frontera binacional", contrarrestar los efectos del Plan Colombia contra el narcotráfico con denuncias de las fumigaciones, "cambiar a los mandos de la fuerza pública" hostiles a la guerrilla... Se trata de neutralizar al presidente colombiano, Álvaro Uribe, representante "de la Casa Blanca, las multinacionales y las oligarquías".»

Rafael Correa, Presidente do Equador *



... pela Associated Press, que uma mulher de 62 anos foi detida no aeroporto de Munique, depois de ter sido descoberto na sua bagagem o esqueleto do irmão, falecido há 11 anos. A viagem do Brasil para Itália prosseguiu, após apresentação de documentação emitida pelas autoridades brasileiras para o transporte das ossadas, cumprindo-se o seu útimo desejo.


Skull with Burning Cigarrette, Van Gogh

Cremaster Cycle



Vi o Cremaster Cycle há uns anitos. Impressionaram-me nos diversos filmes (são cinco, embora não esteja certa de os ter visto a todos) os diferentes universos que Matthew Barney conseguiu criar. Lembro-me de pensar a cada instante que o tipo era obrigatoriamente doido varrido, pelas personagens a quem ele deu vida, pelos materiais usados (eu, que gosto de têxturas, fui brindada com o trabalho de um escultor de grande calibre), por não ter conseguido perceber metade do que me estava a dizer.
Quero rever estes filmes, para ver se o meu entendimento evoluiu nalgum sentido nos últimos tempos.

Thursday, March 6, 2008

Para compensar
























Até daqui a uns dias.

Wednesday, March 5, 2008

Snapshots

No Country For Old Men, de Ethan&Joel Coen


Anton Chigurh:
And you know what's going to happen now. You should admit your situation. There would be more dignity in it.

Carson Wells:
You go to hell.

Anton Chigurh:
Let me ask you something. If the rule you followed brought you to this, of what use was the rule?

Carson Wells:
Do you have any idea how goddamn crazy you are?

Anton Chigurh:
You mean the nature of this conversation?

Carson Wells:
I mean the nature of you.


Nota: Tive pena que o Tommy Lee Jones não tivesse sido nomeado para um óscar pelo seu desempenho neste filme. Gosto imenso dele, bem como do Woody Harrelson (desde que o vi há anos num filme em que ele criava a Hustler Magazine, com a Courtney Love).

d' A Partilha

Essaouira, Outubro de 2007


All the songs have been sung
You’re too old and then you’re too young
Did you leave your mark on the world
One as deep as true love
Let’s sing Hosanna

All the stories are told
You’re too young and then you’re too old
Did you leave a mark on the world
One that lasts as long as true love
Take me with you now

To be strung as high as this
Making love without a kiss
And someone you saw again
Back to haunt you there and then
Please take on my love

Evolution is real
Secrets we have never revealed
Did you leave your mark, was it real
Or as deep as the love we both feel

To be strung as high as this
Making love without a kiss
Like a gift you didn’t keep
And it leaves a mark so deep

There’s a million things to miss
Like the chance to take that kiss
where you go, you’ll be someone
With one kiss your life is swung

What you gonna do when you walk away
Walk behind me, it’s alright, I’m Ok
Then what will you do if I walk away
Walk beside me, it’s alright, we’re Ok
Where you gonna do, don’t surrender
Hold me tight, don’t let go


Without A Kiss
, Badly Drawn Boy
Born In The U.K. (2006)



PS - Já viram o álbum? É um passaporte detalhado no interior. É pena que hoje em dia este tipo de grafismo tenha caído em desuso.

Horas Extraordinárias

Hoje, em conversa com uma amiga, recordei um episódio engraçado ocorrido quando ainda trabalhava na AICEP em Rabat.
O ambiente de trabalho na embaixada era óptimo, alicerçado na relação próxima que mantinha com as minhas duas colegas marroquinas, Hnia e Hasna. Tanto uma como outra são mães (o mais velho tem 17 anos e o mais novo 8) muçulmanas.
Caracterizá-las desta forma redutora serve apenas para contextualizar o que descrevo em seguida.
Nesse dia, estava eu embrenhada no trabalho (tenho quase, quase a certeza que estava), quando ouço as minhas colegas rirem à gargalhada, de forma incontrolável. Falando elas em árabe entre si, e uma vez que os papéis que agitavam na mão, e eu supunha terem dado origem à risota, também estavam em árabe, não tive outra solução senão implorar durante uns minutos para me porem a par do sucedido.
Depois de se acalmarem lá me explicaram que tinham acabado de ler no jornal um artigo onde um reputado professor universitário egípcio defendia que, em locais de trabalho partilhados por homens e mulheres, estas últimas teriam de amamentar os colegas, de forma a adormecer qualquer desejo sexual que pudesse nascer da convivência. Em nome do Islão!

Yeah Right!!!


















Se o professor egípcio partilhasse o gabinete com este(a?),
certamente não seria tão "iluminado"




You can read the whole story at:

Against all odds


« Hillary sobrevive ao dia de hoje, e ainda mais se ganhar Texas, o que me parece provável. Seguem-se alguns estados que lhe são favoráveis »
Pedro Magalhães, hoje às 04h da manhã, aqui.

Saturday, March 1, 2008

Peixe-Voador

Tenho de escrever, e tem de ser já, porque a memória já não é o que era e estou ansiosa por descrever aquela manápula agarrada ao meu copo. Mas, vamos por partes, que a noite foi um crescendo de surpresas e insólitos e, já que tenho de escolher uma ordem para os relatar, que seja a cronológica, para retirar a subjectividade à coisa.

O plano consistia em jantar no novo restaurante do Adolfo Luxúria Canibal, em Braga, que iria iniciar-nos na arte da degustação de sushi. O restaurante esconde-se por detrás da velha Sé de Braga, mais precisamente na rua do Forno, nº 17, numa viela empedrada onde o granito certamente nunca almejou dar forma a um espaço para ingestão de peixe crú. Depois de termos sido devidamente alertados para o sabor intenso das ovas de salmão, peixe-voador e um primo afastado, que o afável proprietário denominou de "navios de guerra", deu-se início ao festim de cores, têxturas e sabores.
No final da refeição, enquanto o saquê arrefecia nos pequenos copos, o Adolfo discorria acerca do Metro do Porto. "Aquilo não é um metro, é um eléctrico rápido", dizia. Eu acho que ele gosta de dar nomes às coisas.

Pedimos conselho aos nativos sobre um bar, situado perto do restaurante e, preferencialmente, onde pudéssemos fumar. O espaço que nos indicaram era muito agradável e explorado por seres tementes à ASAE, a avaliar pela quantidade de luvas de borracha, - das que se compram nas farmácias - que o cozinheiro utilizava para fazer uma tosta-mista.

Não me recordo qual o assunto preciso que discutíamos naquele momento, mas a conversa decorria animada quando, do nada, surge uma grande manápula branca que abre caminho por entre garrafas vazias e levanta o meu copo. A Super Bock Stout deslizou por entre os lábios de um homem alto, de fato, bem-parecido, de olhos e cabelos negros sobre o comprido, que reconheci do restaurante do Adolfo. "Espero que lhe tenha sabido tão bem quanto me estava a saber a mim!". Ele estava completamente, e passo a citar, "descomandado" - penso que consegui adivinhar-lhe o significado - e explicou-nos que o propósito dele às 19h daquele mesmo dia nunca tinha sido ter um jantar frio, de peixe crú. "Eu saí de casa e pensei: Hoje, nada de álcool. Sim, porque eu sou muito amigo do álcool. Vou comer um bife guloso. Mas, o Canibal viu-me passar e disse: Anda cá! - e pronto, ainda aqui estou." Esta personagem, de 38 anos, era professor. Os alunos, que já não via há 4 anos, ainda lhe escreviam cartas, o que ele poderia provar. Era extremamente culto e exprimia-se num português correcto, recorrendo a uma riqueza de vocabulário difíceis de encontrar hoje em dia, pelo menos nas gerações mais novas de professores com quem já tive contacto. O Mirandela, ou Jorge por baptismo, deu-se a conhecer ao longo de uma hora, encostado à nossa mesa, de pé, e estou certa de que a impressão que deixou em mim, deixou-a também em quem mais o ouviu. Em noite de estreia num restaurante japonês, pela madrugada dentro a falar sobre alheiras.