Monday, October 15, 2007

In the mood for taking a break







O banco é desconfortável e os cotovelos estão moídos do contacto prolongado com a superfície dura do balcão. O dispensar do conforto dos sofás na parte traseira do bar não faz parte de um ritual de combate ao isolamento típico daqueles que procuram o afago do álcool após a jornada de trabalho. Não lhe interessavam as conversas do empregado e tampouco a dos seus pares que deixavam pender sobre o copo do whisky um palavreado incoerente. Desprover-se de conforto era antes uma estratégia de compensação pelo sentimento de dupla culpabilidade por 1não ter ido para casa, levando simultaneamente a mulher a acreditar que estava assoberbado de trabalho.

Hoje não lhe apetecia lidar com o facto de o filho mais velho estar mais preocupado com os pneus da Moto4 que com as explicações de química e não queria convencer a filha a fazer os exames de aferição ao liceu que lhe facilitaria a entrada na escola de comércio mais reputada a nível internacional. O dom de fazer planos a longo prazo não tinha nascido com ele, daí a sua inépcia para convencer alguém da necessidade de viver segundo um traçado predeterminado.

Enquanto tirava uma pausa da paternidade, ansiava pelo momento em que se deitaria ao lado do corpo quente da mulher, escutando a sua respiração pesada no escuro.

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