Monday, August 27, 2007

In the mood for doing good


“Mamã, eu gosto mesmo dele. Pode parecer-te uma decisão precipitada, mas é isto que quero. Repara como ele brinca com o bobby. Estou certa de que será um bom pai para os meus filhos.”

Tendo proferido a verdade mais absoluta de que se sentiu capaz, sentada no sofá do pai para maior credibilidade, olhava pela janela e contemplava o futuro marido.

Desde pequena que tinha por hábito associar um animal às pessoas de quem mais gostava. A irmã mais nova era um touro. Uma maria-rapaz, que adorava futebol e era extraordinariamente desastrada. Hoje mesmo tinha manchado a toalha branca da mãe com os seus gestos largos enquanto discursava à refeição. Sempre ocupou demasiado espaço. E agora, com o terceiro rapaz a caminho, ocupava de cada vez mais. À mãe, via-a como um pequeno pardal. Uma mulher enérgica e por norma bem-disposta. Finalmente, o pai, com os seus olhos congestionados e bigode comprido e espesso, imaginava-o um gato constipado. Era calmo, ponderado e apenas intervinha quando absolutamente necessário.

A lei da gravidade, que impede que os seres flutuem sem rumo pelo espaço, funcionava bem com toda a família. Ele, porém, era uma vítima da lei da gravidade e precisava dela. Afigurava-se-lhe como um escaravelho de patas compridas e fortes. Quando calcorreava terreno conhecido, era veloz e decidido. No entanto, ao deparar-se com obstáculos inesperados, voltava-se de barriga para o ar e permanecia a balançar na carapaça dura e arredondada. Incapaz de virar a cabeça noutra direcção que não o céu, perdia a noção de onde estava e desesperava. Ela debruçava-se sobre ele e ajudava-o a retomar a posição inicial.




1 comment:

Anonymous said...

Tens jeito sim senhor!!!