Thursday, August 23, 2007

In the mood for marriage




O brinco de cerejas balanceava-se no indicador, para a frente e para trás. Ela estava completamente absorta no filme, a respiração acompanhava as cerejas carnudas naquele dançar familiar e agitava a mecha de cabelo que não conseguia prender atrás da orelha direita, por ser demasiado curta. Com a mão esquerda controla rapidamente esse estorvo, empurrando-o para o cimo da cabeça, sem perder o equilíbrio das cerejas na ponta do dedo.
O filme aproxima-se do final e a respiração dele torna-se cada vez mais acelerada. A antecipação do momento em que ela leva à boca a cereja encarnada deixa-o impaciente. E a mecha de cabelo teimosa que escorrega lentamente para a posição inicial, voltando a mover-se ao ritmo marcado pela respiração cadenciada. Ela cortou-a no dia em que o conheceu e ofereceu-lha. Ficou com os cabelos espetados, num daqueles repentes que a caracterizam.
“Estamos na época das cerejas. Eu gosto muito desta época. Quando conseguir prender o cabelo atrás da orelha, caso-me com ela”.

1 comment:

Anonymous said...

Já não escrevias há muito. Gosto mesmo de te ler. As cerejas são mais de Verão, mas enquanto leio estas tuas pequenas dissertações imagino um prado verde onde sopra uma brisa primaveril.
Mas por falar em Verão e enquanto ele não acaba, desta vez deixo-te algo em portuguÊs (não faço a menor ideia se gostas, espero q sim).

"Foste a razão da viagem de umas férias para fugir
Foste a razão da viagem de umas ferias para fugir
Encontrei-te na paragem, no descer e no subir

Dei o teu nome a toda a gente e a todos te quis
chamar
Dei o teu nome a toda a gente e a todos te quis
chamar
Dei a tua voz ao vento e ao movimento o teu andar

Foste a frescura da minha sede
Andei contigo na minha mão
Foste a frescura da minha sede
Andei contigo na minha mãe
Pintei a boca de rosa e verde
Foste o gelado do meu verão

Foste a sombra do momento, tentação a experimentar
Foste a sombra do momento, tentação a experimentar
Foste a luz do salvamento do regresso ao meu olhar

Tu foste em todas as formas um país que eu nunca vi
Tu foste em todas as formas um país que eu nunca vi
Velho sonho dos meus olhos e eu só te vi a ti

Foste a frescura da minha sede
Andei contigo na minha mão
Foste a frescura da minha sede
Andei contigo na minha mãe
Pintei a boca de rosa e verde
Foste o gelado do meu verão

Teu corpo foi minha toalha, foste o Sol da minha cor
Teu corpo foi minha toalha, foste o Sol da minha cor
Foste o mar da minha praia, tu foste o meu bronzeador

Foste a frescura da minha sede
Andei contigo na minha mão
Foste a frescura da minha sede
Andei contigo na minha mãe
Pintei a boca de rosa e verde
Foste o gelado do meu verão"

António Variações.